terça-feira, 26 de junho de 2012

a ponta de seus dedos carrega uma contradição.




Mãos. Mãos gentilmente firmes, mãos deslizantes, despreocupadas. Mãos. Mãos que analisam, distraidamente concentradas, mãos. Mãos experientemente ingênuas, que despertam, sensibilizam sob o toque, arrepiam, mãos. Timidamente sacanas, sussurrantes em sua natureza pacientemente ávida, mãos. Mãos que tocam a pele branca provocando suspiros na simplicidade de sua luxúria. Suas mãos.





terça-feira, 5 de junho de 2012

Intimidade de Verão


“     -  This is it Joel, it’s gonna be gone soon.
-        I know.
-        So, what do we do?
-        Enjoy it.   “


Sempre tivemos essa certeza, discorremos horas e horas sobre as possibilidades, até o momento em que decidimos ignorá-las e aproveitar essa fulgaz felicidade, essa compreensão mútua, o prazer da palavra.
Mas a realidade veio rápido demais, sem aviso, não pude me preparar. Por isso me pego constantemente sentindo saudades de todos os telefonemas trocados aos sussurros na madrugada, de brincar de Fausto e suspirar – muitas vezes rindo – em meio a todos os clichês, saudades de procurar insistentemente uma diferença de pensamento e depois de muito tempo declarar, com certa frustação, que somos iguais.
Mas apesar desse sentimento de saudade, sinto alívio ao saber que não existe um drama para ser reclamado, aceitamos de bom grado as novas fases entre nós, que chegam para nos fazer crescer. Celebramos agora essa saudade gostosa do nosso recente passado, com a certeza de um reencontro próximo para matar toda e qualquer curiosidade, compartilhar novas teorias, mais uma vez nesta ou em outra cidade.




What If



“  ‘What’ and ‘if’ are two words as nonthreathening as words can be.
But put them together, side by side, 
and they have the power to haunt you for the rest of your life.
'...what if?...what if?...what if?...'  
                                                         (Letters to Juliet)

Cada lembrança que é trazida à tona desperta um tipo diferente de nostalgia, mas o tipo de lembrança que mais dói ao ser remexida é a lembrança do que não foi, da oportunidade intocada, da chance que você desperdiçou por não ser obstinado o suficiente, aquela que foi embora enquanto você estava sentado no sofá.
Ficar se perguntando a que caminhos você poderia ter sido levado se alguma atitude tivesse sido tomada de maneira diferente, se tivesse sido olhada por um ângulo diferente, pode te mergulhar em um estado de torpor permanente, onde seus sonhos o envolvem e o afogam em um mar de ideias frustradas e escolhas mal correspondidas.
A agonia de ter a ciência que todas as falhas e dissabores que hoje se fazem presentes em sua vida são fruto de impulsos mal calculados, que não podem ser atribuídos à outra pessoa que não seja você, te arrasta continuamente pela borda da perspicaz e familiar depressão, que lhe estende os dedos, sedutora.
A cada volta do relógio você se sente mais impotente, acorrentado à impassibilidade que se instalou silenciosamente, sufocando com a densidade do ar. 




segunda-feira, 4 de junho de 2012

Tired Swing


Existe um certo conforto, uma comodidade em esperar. Mesmo afundando lentamente, a promessa de que alguém em algum momento vai lhe sacudir e lhe chamar de volta à razão faz com que você espere pacientemente, confortável ao afundar.
Não precisar escolher, ou escolher esperar é um estado tão acolhedor, que o abraço e o sinto em mim. Esse sentimento de cuidado me balança e me embala, talvez seja ele que me impede de me despedaçar.
Por isso gostaria de aproveitar este meu momento de inércia, deitar a cabeça e descansar, antes que venha o vendaval e me obrigue a levantar e lutar.



irmão.



Encarando a folha em branco, tentando entender sentimentos desconexos, comparando situações, tentando encaixar inutilmente esses pedaços de alma.
Entre nós nunca se fizeram necessárias as explicações, tudo estava lá e num olhar era entendido. Palavras se faziam cada vez mais desnecessárias, uma vez que um gesto carregava o significado de milhares delas, trazendo sorrisos e desgostos junto com o silêncio da cumplicidade.
Com o tempo, a distância se transformou em uma realidade fria, injusta. Sempre soubemos que este dia chegaria, mas o ignorávamos, fingíamos que nunca existiria. Mas silenciosamente essa distância se instalou, trazendo desgastes desnecessários, trancando vários sorrisos em um porão.
Mas se eles pensaram que uma pequena ventania iria desgastar-nos, com toda a certeza perderam tempo. Está tudo gravado aqui dentro, como os apaixonados gravam nas árvores iniciais entrelaçadas, está aqui dentro junto com todos os clichês não falados. Como já foi dito, essas algemas invisíveis permanecerão, porque nunca permitiremos a injustiça de separar dois irmãos.


Para Guilherme Gomes dos Santos.