quarta-feira, 17 de julho de 2013

Voltar ao Arlequim




Querendo correr para bem longe, fugir da lâmina pungente da realidade, da crueza dos fatos, voltar ao Arlequim.
Não quero ter o trabalho de analisar alternativas, quero fechar os olhos e me transportar para onde nem eu mesma exista, estou cansada de mim.
A exaustão que me causa a realidade faz meus membros pesarem, faz todo e qualquer pensamento que sussurre respostas parecer inútil. Não quero voltar ao passado nem caminhar pelo presente, prefiro me deitar aqui pelo meio da estrada do que seguir por um caminho doente, onde rostos se esquecem de quem são e desaparecem simplesmente.
Anseio permanecer nesta lagoa de puro desconhecimento, desapegada de realidade, escolha ou sentido. Desapegada de mim. Apenas por um momento deixar de ser. Mergulhar no infinito, me tornar um desconhecido, por um momento deixar de existir.



quinta-feira, 6 de junho de 2013

Convocaram a Esperança.




Ah como é doce o desconhecimento puro e completo!
Quão agradável o perfume que preenche a minha alma
com notas amadeiradas e cítricas de liberdade: Dó, Ré, Mi, Fá.
E meu espírito dança, rodopia e desliza,
seguro agora de onde deve pousar.

Abriram as portas para a Esperança,
e num tapete vermelho vou deixá-la passar.
Deixar que regue o meu jardim, 
Que pinte para mim a Lua Cheia,
que salpique meu céu com milhares de Estrelas.





quinta-feira, 21 de março de 2013

"This is a story of boy meets girl...

... but you should know upfront: This is not a love story."




De nada valeu esse teu jeito tão certeiro de compartilhar as incertezas, de completar as minhas frases, de inventar e pintar uma vida coloridamente divertida, de dividir um silêncio tão tagarela e de ter dentro de seus braços o encaixe perfeito para meus abraços.
De nada valeu? Valeu sim, claro que valeu. Vai sempre estar aqui, como tatuagem gravada na alma, memória fresca e doce, feito fruta madura ao alcance das mãos. 
Mas é triste saber que foi de tuas mãos que tu me deixaste escorregar, gotejando lentamente a cada palavra incerta lançada, a cada rosto borrado na multidão. Eu fui me calando, cansada de nadar na contramão.
Tinha me acostumado ao seu costume de viver pela metade, de me aconchegar na tua vaidade, mas agora quero fazer parte do inteiro, de me levantar e abraçar a realidade. Sinto muito por você não estar aqui para me acompanhar.



                  "Não escrevo para perturbá-lo, pressioná-lo ou persuadi-lo.
                         Escrevo porque preciso, porque respiro, porque existo."
                                                              [Kely Kachimareck]

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O que eu quero? Quero não saber...


Quero ter dúvidas, quero hesitar, poder mudar de ideia livremente, quero o sol batendo no meu rosto cada dia de um lado diferente.
Quero que minhas pegadas sejam incertas, isentas de qualquer culpa ou ressentimento. Quero que não tenham sentido algum, quero pegadas que se apaguem com o vento.
Quero mais nuvens neste céu, quero sentimento. Quero tropeços pelo caminho, não quero o controle do tempo.
Quero me sentar à beira do abismo, conversar com meus medos. Quero um mundo sem grades, quero menos segredos.
Quero flutuar constantemente, provar do fruto do acaso, escolher o de repente.




terça-feira, 29 de janeiro de 2013

a fogueira.




Me encontro agora caminhando descalça pelas cinzas ainda mornas do que outrora costumava ser uma ardente fogueira. Quanto mais remexo em seus restos, mais sujo com a fuligem fica meu rosto - mas tudo que consigo é desmanchar ainda mais as frágeis esperanças que carregavam aqueles malogrados pedaços de carvão.
Hoje sou reflexo de todas essas amargas cinzas que um dia acenderam minha alma, sou a criança esfarrapada que ainda chora desamparada, à beira dos restos de uma fogueira que hoje representa um imenso nada.



sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

menor que três.



"I hope you don't mind that I put down in words 
how wonderful life is while you're in the world."


Ah, como gostaria eu de tomar para mim o dom de Fausto e lhe escolher, envolvê-lo em meus braços e nunca mais devolver! 
O contraste que se mostra entre eu e você está nos seus pés no chão, na segurança e firmeza em suas palavras, nas opiniões gravadas em pedra e na aspereza de sua barba.
Como seria fácil escrever o próprio destino na palma da mão, deixar de depender de "talvez" e "por quês". Pois quando o Sol corre a se esconder, satisfação é estar ali contigo, que vai segurar a minha mão e me proteger.. de aranhas e toda sorte de clichês, e implicar comigo que sempre deixo um resto de cerveja quente pra você.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

08 .jan. 2013

Precisaria mentir descaradamente para negar a inebriante nostalgia que me envolveu ao ter mais uma vez seus cabelos tão macios entre meus dedos, enquanto sua cabeça repousa despreocupadamente em meu peito e posso sentir o ritmo de sua respiração.
As palavras saltam e deslizam sem dificuldade alguma enquanto assimilamos o choque dos olhares e do toque ainda serem tão acostumados um ao outro.
Mas o descompasso do coração não comprimiu mais o meu peito, agora estou segura em mim. Pude pausar, avançar, finalmente aproveitar e reparar em cada detalhe sem ter a respiração interrompida, sem o rubor tão familiar.
É um alívio poder me utilizar de tanta franqueza, revirar o âmago de todas as lembranças, sacudir a poeira sem medo e, agora também sem dor.



"Flowers fade, the fruits of summer fade.  They have their seasons, so do we.
   But please promise me that sometimes, you will think of me."